quarta-feira, 29 de abril de 2009

Prelúdios - intensos para os desmemoriados do amor (Hilda Hilst).


I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)

terça-feira, 14 de abril de 2009

UM ESTRANHO CASO DE INCESTO!


Eu sempre desejei a minha irmã. Isso é um fato. Não sei se todos os homens já desejaram suas irmãs, mas eu desejei a minha fervorosamente e desde a infância achara isso normal, completamente habitual.

Nunca nos tocamos na adolescência, mas meu ciúme aumentava cada vez que a via com um namoradinho novo. Por dentro era como se eu morresse aos poucos. No banho eu me masturbava pensando nela, querendo-a nua, em cima de mim, cavalgando como uma ninfeta, como a uma puta. Meros sonhos.

Com o tempo, a maturidade veio chegando e o desejo pela minha irmã foi diminuindo. Percebi o quanto aquilo que eu sentia se mostrava errado, pecaminoso, infausto. E assim fui esquecendo aos poucos aquela loucura.

Porém, num certo dia, eu estava em casa assistindo um clássico de domingo: São Paulo e Corinthians. Como nos finais de semana não era incomum minha solidão na residência triste dos Ferreiras, não me importei com minha aparência e fiquei apenas de cueca e camiseta. Diga-se de passagem uma cuecazinha até bem surrada. Mas eu estava só e não tinha que me preocupar. Durante o intervalo do jogo minha irmã chegou da casa do namorado e ao me ver naquele estado lastimável riu e perguntou o que eu fazia. Virei as costas ignorando a risada e respondi que assistia o jogo de futebol na TV. Minha querida maninha então disse que tomaria um banho e assistiria comigo o segundo tempo da partida, era a decisão da taça libertadores da américa e ela adorava. Achei que seria bom ter companhia naquele domingão.

Quando o apresentador iniciou a narração do combate, Ana saiu correndo do banheiro e sentou-se do meu lado. De toalha. Isso mesmo meus amigos! De toalha! E que pernas lindas, bronzeadas, seios bicudos, pontiagudos, enfim, um tesão! Meus desejos adolescentes retornaram como um furioso mar de ressaca. Voltaram meus anseios e meus medos, as mágoas das minhas frustrações. Mas naquele momento eu era um homem maduro e adulto e tive a atitude mais emergencial, prudente, correta e altruísta que pude. Pensei: “hoje eu vou te comer caraio!”.

Ana notou que eu estava inquieto, me remexendo no sofá. Eu não estava assim à toa, tentava, como os jogadores no campo, uma melhor posição para o ataque. Tentava enxergar mais de perto aqueles seios deliciosos enquanto olhava suas pernas cruzadas. Meu pau resmungava dentro da cueca querendo sair e dar uma espetada naquele bucetão escancarado por baixo da toalha.

Não resisti muito tempo e logo agarrei minha irmã e dei-lhe o beijo mais longo da minha vida. Ela não retribuiu imediatamente, aliás, Ana correu para o quarto chorosa. Comecei a bater na porta e pedir-lhe desculpas. De tanto insistir, ela acabou abrindo e me olhou por uma fresta. Disse injúrias e se trancou novamente. Seu olhar me dizia algo extremamente profundo e de certa forma filosófico: “seu filho da puta”.

Horas depois eu tinha tomado banho pra sair de balada. Tá, vou abrir um parêntese aqui e responder de forma bem sucinta o que vocês desejam saber em miúdos. E é isso mesmo, eu pretendia escapulir do incidente, pois havia em mim uma certeza hedionda de que tinha feito merda.

Contudo, minha decepção era evidente. A impulsividade tinha me afastado dolorosamente da minha querida irmã. Mas eu sabia de quem era a culpa e jamais poderia vingar-me, senão de meu próprio pinto. Fiquei com vontade de punhetá-lo até a morte. Quer destruir a alma de um homem? Tire dele o amor. Mas se realmente desejar-lhe a desgraça plena, arranque seu símbolo fálico, sua masculinidade, o que de mais precioso está entre suas pernas. Será como ruir todos os sentidos da sua realidade, porque afinal se ele não tiver um cacete, o mundo não terá mais onde girar em volta. Seu cedro das paixões é também seu ponto fraco.

Por outro lado, algo curioso aconteceu depois do desastroso episódio no sofá. Eis que quando chego em casa, por volta das duas da madrugada, Ana está sentada na sala assistindo televisão. Eu apenas disse o "oi" mais sem graça do universo e fui me deitar, não queria mais confusão. Na minha cabeça todos os fantasmas da infância me assombravam.

Acordei de repente com uma sensação estranha, como se alguém tivesse me dado um beijo. Quando recobrei totalmente do sono, Ana procurou minha boca enquanto acariciava meu pau por dentro do meu short. Não tive dúvidas. Beijei-a vorazmente enquanto dizia que a amava. Ana desceu por baixo das cobertas e engoliu deliciosamente minha rôla, de quebra chupando minhas bolas. Eu viajava com aquela língua deliciosa que mamava o jererê. Coloquei de lado a calcinha de Ana e atolei dois dedos. Ela gemeu alto. Nossos lábios se encontraram de novo, dessa vez subjulgados, criminosos, incontestáveis.

Parecíamos amantes das mil e uma noites. Chupei-a como nunca antes, como nunca o fizera com mulher nenhuma. Aliás, a única mulher que tentei fazer sexo oral tinha tanto pelo que quase precisei abrir caminho com um cortador de grama. Ana não, ela era cheirosa, limpinha, pequena, doce, rosada. Para mim era a melhor das melhores.

Suas mãos me arranhavam, sua boca me mordia. No auge da paixão deixei seu corpo na posição de muçulmano ao pôr do sol: com o cu pra cima. Enterrei minha vara dentro dela e quase desfaleci com a maciez e viscosidade. Estoquei com calma e depois fui aumentando o ritmo. Eu me senti o MC CRÉU na velocidade cinco. De quando em quando beijava suas costas, puxava seus cabelos, batia-lhe na bunda. Eu ia explodir dentro de Ana, quando ela me pediu que gozasse em sua face, queria sentir-me e acima de tudo o gosto que tinha meu corpo. Não hesitei nem por um segundo. Fechei os olhos e esperei que saísse de dentro de mim tudo que havia desejado há anos. Mas a sensação estranha me tomou novamente quando Ana simplesmente levantou-se e começou a lamber meu nariz. Pulei da cama assustado, era manhã de segunda-feira.

-- Porra belinha... FÉLA DUMA ÉGUA! Sai da minha cama sua cadela dos infernos! SAI!

Belinha era uma pitoresca fêmea de poodle engraçadíssima (mas não muito) que minha irmã tinha ganhado de presente do namorado. Aquela foi a relação sexual mais próxima que tive com Ana, personificada através de sua cachorra. Belinha era, como dizia meu pai, uma ninfeta canina. Só não me perguntem o porquê, a única coisa que se poderia saber era que meu querido pai tinha um medo pavoroso da putinha canídea e eu também depois daquele trauma. Mas, como diria Fernando Pessoa na atual conjuntura, tudo vale a pena quando a “cama” não é pequena.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Irrefutável Medo das Solidões


Eu senti medo, um medo sumário, corrosivo, deliberado, assumido. Mas aquele medo era ao contrário, estranho a uma maré em direção oposta e de certa forma, subjetivo. Tive medo quando acordei ao seu lado, vendo sua silhueta nua e a sonolência do breve momento em que comecei a me dar conta do que era o amor. E não era nada daquilo que eu pensava. A filosofia podia explicar qualquer coisa sobre os sentimentos mais fecundos que um homem pode sentir ao longo da sua vida infértil. A psique humana pode discursar sobre as violentas paixões da vida. Mas aquele instante era meu, só meu e de mais ninguém. Eu estava a sós com a minha alma e os meus receios.

Ela tinha os cabelos claros, não naturais. Olhos fundos, tristonhos, jovialidade abatida por motivos que já nem sei. A cabeça que repousava em meus ombros não queria apenas companhia, sexo, beijos, carícias. Ela desejava ser admirada, contemplada, salva por algum herói que a tirasse das ciladas mundanas. E eu estava ali perplexo, estático, inseguro, notadamente tocado por uma mulher linda que precisava de colo. O mundo desabou sobre mim, sobre um ser que achava que os amores eram presságios das tragédias. Eu sabia que sabor e dissabor, alegria e dor, coisas antagônicas andavam na mesma linha esperando pra se chocar em alguma oportunidade.

A sociedade é toda pautada nessas idiotices, insígnias e por isso impérios romperam com o seu tempo, a ordem cronológica da formação do mundo foi calculada pela ditadura das coisas, pelo declínio de nações, por erros de julgamento de nossos predecessores. O planeta é o filho pródigo de si mesmo, produtor de sua reprodução, evolução e destruição. E mesmo me achando o cara que sabia demais, que conseguia arquitetar fugas de lugares e situações inescapáveis era o momento patético em que eu estava abraçado a uma balzaquiana linda, cheia de tabus e anseios, completamente entregue ao que, para mim, antes faria definhar o mais impenetrável. Meu coração sempre fora inacessível e de repente eu estava fragilmente acorrentado a ele e aos seus cavalos selvagens. Aquela era uma prisão em que não haveria nenhuma saída estratégica.

Eu a amei desde então. Fizemos amor no segundo encontro e quebramos todos os paradigmas. Quando acordei, ali me senti só. Tive a sensação de que meus medos tinham voltado para me assombrar. Ela ainda dormia de bruços, estávamos nus, mergulhados no desconhecido e profundo mar de nossos espíritos. Daí, passei a imaginar se algum dia eu simplesmente acordasse, no meio da noite, durante uma tempestade e ao meu lado pairasse apenas o cheiro de alguém que já tinha partido. Ou se descobrisse que tudo não passou de um sonho e a realidade fosse mera crueza da solidão.

Peguei minhas roupas, um guardachuva e saí. Fui até a padaria, pedi um café e acendi um cigarro. Pedi alguns pães e no caminho de volta comprei uma rosa de um ambulante. Quando girei a chave da porta respirei fundo, coração acelerado. Senti o gosto do ar, das gotas que cintilavam do céu e beijavam minha boca, bebi sensações implacáveis e finalmente, com exímia coragem, entrei. Coloquei as chaves sobre a mesa junto com o pacote que carregava. Desabotoei a camisa e sacudi os ombros molhados. Preparei um chocolate quente e recheei o pão com iguarias naturais. Posicionei tudo metodicamente numa bandeja com iogurte e algumas frutas. Não importa o quão grosso e inseguro eu fosse, teria ao menos que ser digno, cavalheiro, educado. Contudo, não deu tempo nem de chegar à entrada do quarto.

Ela despediu-se, ao fim silencioso do estratagema. Estava arrumada, exuberante, decidida. Recusou minha intenção, esquivou-se da conversa, das perguntas, apenas saiu. Que me coloquem na lista dos chacais, mas naquela noite nos amamos fervorosos, equivocados, avassaladores. Amor de mais um final de semana, amor que se conta no relógio, amor que não se entende, apenas se ama na fúria de coisas que parecem nos impelir ao belo. Era um começo de semana torrencial em todos os sentidos possíveis imagináveis. Parei no farol. “Fofo” ela disse antes de sair. “Dane-se” eu pensei quando a porta se fechou. Todas as segundas feiras eram iguais há pelo menos uns quinze anos. Para mim tudo bem, o medo das solidões se dissipava. Eu já tinha me habituado com as inúmeras personalidades geniosas da minha esposa.