quarta-feira, 29 de outubro de 2008

HOJE - OS HOMENS NUS...



Hoje eu acordei cedo e o dia estava belo, ensolarado, vívido. Parei diante do espelho. Experimentei muitas roupas; a primeira foi um paletó bege. Bege? Não era um dia especial, eu ia apenas a um almoço quase executivo. A sociedade manda na moda, na etiqueta, mas não em mim. Coloquei-me num modelo esporte-social. Roupas bem leves e simples. Só que eu ia a um encontro profissional e não ao shopping. Decidi desengavetar meu jeans batido, completei com camisa pólo e “sapatênis”. Ficou muito legal. Talvez se o encontro não fosse com meus superiores e pessoas ilustres teria sido uma ótima combinação. Vesti outra camisa, dessa vez com botões e meia-manga, sem gravata, calça tradicional não-jeans e sapato. Nem pesado, nem destoando do propósito. Mas era desconfortável pra cacete e isso me deixa com o humor péssimo. A menos que eu fosse na intenção de ser demitido, não, em definitivo não era o meu desejo.
*
Sinceridade? Odeio essa coisa de tecidos, cores e peças que "se casam". Eu sou um grosso, tenho certeza. Por mim eu ia de bermuda, com meu "nike", boné e óculos escuros, chamando todo mundo de "bródis" e "parceiro" (com sotaque todo acariocado). Ou como diriam meus alunos paulistanos, só de "bombeta e lupa" (tradução: boné e óculos escuros). Porém, dentre muitos poréns, decididamente não era um passeio turístico pelas savanas africanas e tais pensamentos irônicos eram, na verdade, infortúnios. Não sou bom em escolher roupa. Geralmente faço melhor na hora de escolher mulher e perfume. Escolho o que gosto, o que me faz bem, certo de que essas escolhas são tiros no escuro. Quase sempre acerto o alvo. Mas existem ocasiões específicas que pedem estilo, fineza, discrição. Quanto a isso continuo na ala dos pessimistas. Finalmente deitei na cama e olhei de novo no espelho. Deixei cair a toalha ao meu lado sob os lençóis desarrumados da alcova. Vi meu corpo exposto, úmido, espalhado no colchão, próximo do que se entende como visceral. Descobri minha melhor vestimenta e resolvi como iria impressionar à todos na reunião. Saí de casa da mesma forma que vim ao mundo...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Melancolia



Tristeza...

Minha história é triste. Talvez por conta de coisas que não fiz e deveria ter feito. Hoje sufoco meu choro no travesseiro. Afogo minhas angústias em cada banho pela manhã. Se te aceitei de volta ou bati a porta para sempre, não importa. Não mais. Eu estou infeliz porque não há sentido, nem em estar fazendo amor com quem ainda tento fazer amar mesmo que nunca me ame ou ao pagar caro pelo véu acinzentado que desnuda a prostituta.

Minha história é triste. Não sei cantar as músicas que adoro, nem esquecer as que me fazem lembrar das coisas que odeio. Se bebo café e acendo um cigarro, é apenas pra manter acordadas as idéias que teimam em sucumbir. Eu fujo de ti, do bosque, da cidade, da esquina da minha casa, da cama no meu quarto. Estou nu diante da janela. Por ela vôo pela madrugada. Viajo pelo desconhecido dentro de mim. Então te possuo, grito, choro, me culpo, me calo e volto a dormir nu.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

PERFECT DAY



Broadway
Rua de sete castiçais
É dia de encontrar-te
De perder-me
Dentro de mim
Das luzes tuas
Seu corpo é um outdoor
Não fuja agora
Não mais
Tuas entranhas
Entradas proibidas
Intrepid Museum
Circle Line Cruises
Sua beleza onde está?
Em quais ruas
De quais mundos
Só quero voltar a ser cão
Não sei mais ser homem
Sem possuir-te
Aos gozos e sussurros
Ventos que berram longe
Quero voltar a ser latino
Correio brasiliense
Carioca folgado
Paulista desconfiado
Estar em extremos de amor
Dentro de você
Como um vulcão
Beijos
Lábios
Espumas
Espasmos
Abraços
Prelúdios
Irei até ti
Virás até mim
Não importa onde
Não importa o porquê
Apenas venha e consuma-me...

sábado, 20 de setembro de 2008


Certo dia um homem caminhava à beira mar. Estava procurando sentido para sua vida. Uma existência sem amores, vínculos, destrezas, medos, batalhas. Um homem de sessenta e poucos anos que não tinha nada pra contar. Ninguém para ouvir suas bobagens, seus segredos, suas histórias.
Uma mulher se aproxima ao longe. Caminha mansamente e chega bem perto dele. Ambos se olham, medrosos, algozes de si mesmos. Suas bocas se beijam. Seus lábios espumam. O mar cantarola para as gaivotas que esvoaçam em volta. As ondas se quebram. É uma sinfonia. O sexo os consome ali mesmo, na areia.
Certo dia um homem caminhava à beira mar. De mãos dadas com uma mulher ele tinha uma história pra contar. Mas quem contou foi o vento, no silêncio da devoção. Certo dia existiu um homem...

domingo, 31 de agosto de 2008

Desnudos...


Quando tomei seus seios em minha boca

Queria embebedar-me do teu mel

E você me veio com promessas

Com vontades concretas

Por anseios antes abstratos

Somos objetos e desejos

Carne, sangue e despudor

Se você busca meu amor

Segure minha mão para fugir

O matrimônio nos veste

De realidades cruas e desnudas

E se essa for a terra prometida

Saiba que não gosto

Saiba que não quero...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sexo - Cinco Sentidos.


O sexo tem sentido. Não sentido único, nem explanação unilateral de como o entendemos, nem sentido filosófico ou literal. O sexo tem sentido além e aquém desses sentidos existenciais. O sexo tem cinco sentidos. É olhar, é cheiro, é gosto, é sussurro, é tocar e adormecer no calor de outrem. Não há de se pensar neste momento como o amor, esta hercúlea incógnita, se enraíza e cria frutos dentro da concepção do que é um subjetivo sentir tais prazeres. Aqui não há imbricações no que se refere à cópula. Apenas sexo em sua unidade.

Certa vez um homem se apaixonou no ônibus. Era uma garota linda, de saia branca e bota de borracha, carregava uma bolsa estranha e pendia entre o sono e a vontade de chegar em casa, não importa onde fosse. Mas era linda. Tinha olhos claros que nada refletiam senão apenas a estafa da lotação e o cansaço do fim do dia. Não houve casamento, apenas paixão repentina, desejo de ouvir sua voz, seu nome, sua respiração baixa e seus gemidos, sua maneira de gozar a vida. Era carnal, pecaminoso, amar de repente como se a aliança no dedo fosse apenas um adorno. Casamentos terminam por muito menos. Ela desceu e ele voltou a ler o caderno de esportes do seu jornal. Ali o sexo veio através do olhar, mesmo que se perpetuasse apenas no mundo das idéias, que foi o que realmente ocorreu. Aqueles olhares, não recíprocos, um libertino e reprimido, outro gotejado de desdém, desenharam um sexo indiferente e apenas por uma perspectiva ótica e mal planejada.

A mesma garota chegou à sua casa e tomou banho. Tinha que esperar o namorado chegar de carro, pois iam dar um passeio ao cinema. Quem sabe uma esticada até o motelzinho de sempre. Ela escovava os cabelos enquanto os secava com o secador velho e desmantelado. Enquanto imaginava se ainda tinha chicletes na bolsa e dinheiro pra comprar camisinha na farmácia, ela também olhava no guarda-roupa qual perfume escolher para aquela ocasião. O relógio, mesmo adiantado denunciava o atraso do “parceiro”. Ela escolheu uma fragrância francesa, paga em quatro prestações, Avant L’Amour com um toque de feromônio. Quem era mesmo a caça? Não é necessário dizer como acabou a noite. Os homens têm uma doçura singular, pensam com a cabeça do pau. Plebeísmo ou não, no termo exato dessa linguagem mais rude, mesmo se ela tivesse usado o desodorante da mercearia do Zé (amigo do seu pai), o fim teria sido o mesmo. Sexo. Em contrapartida, se ele tivesse passado nas axilas a versão masculina do mesmo desodorante barato, certamente a noite teria outro desfecho. Abstinência sexual. Não é a retórica das tendências “perfumológicas” que interessam, mas sim o jeito cômico e quase trágico do que representa os cheiros que as pessoas estão habituadas a sentir no dia-a-dia. É notável quando alguém sabe que o marido, a esposa, os filhos ou um ente qualquer está presente ou transeunte, apenas pelas percepções odoríferas. Além do que, o cheiro da mulher ou do homem, decorrente de cremes, loções, perfumes ou inúmeras destas diversidades de costumes que cause a excitação erótica, é o que se pode dizer de sexo olfativo.

O beijo. Quantos sabores ele nos dá? E quantos dissabores ele pode trazer? O beijo incita outro beijo, à paixão, ao ciúme, às traições. Jesus foi traído com um beijo. Mortal. Trouxe pela cruz e redenção os rituais da nossa via-crúcis. Não a cerimônia da morte e ressurreição, mas a fixação e indexação de símbolos representativos daquele beijo amargo e hipócrita que outrora foram escondidos da sociedade. Mas o beijo, este elixir irremediável dos amantes, origina sexo, leva adiante todas as conseqüências da necessidade de ter alguém para descarregar os excessos hormonais. E como o fim justifica os meios, o beijo na boca leva-nos indubitavelmente ao sensual, à cama na alcova da volúpia. O beijo tem gosto de sexo e vice-versa. Não acredita? Leia a bula antes de usar.

“Eu te amo” disseram-se os recém-casados na porta da igreja. Cumprir essa afirmação por toda vida era ainda uma lacuna. “Eu te amo” gritou a menina que recebera do namorado um presente de aniversário ridículo. E naquela noite ele repetiu a mesma coisa enquanto ardia a cabeça do seu pênis só para tirar a virgindade da suposta mulher da sua vida, que mal saíra das fraudas. “Eu te amo” tem vários desdobramentos em múltiplas situações. Sexualmente há dois fatores agravantes: quando a mulher o diz na hora do orgasmo, há uma chance remota de ser uma frase verídica, verosímil. Quando é o homem que usa essa máxima (e não mais afirmação romântica novelística), as probabilidades são completamente insignificantes. “Eu te amo” se diz numa quarta-feira chuvosa, na comunhão silenciosa das mãos dadas no metrô, numa tarde de domingo (no intervalo do jogo de futebol), naquele momento em que as palavras vêm após o olhar cheio de intenções benévolas. No sexo, “eu te amo” é armadilha perniciosa, porque amar não é grito, é murmúrio, devoção.

Todos os sentidos foram evidenciados devidamente. Mas e o ato de fazer, consumir? É como degustar uma sobremesa e usar quase todos os sentidos. Mas o tato, o toque, a carícia, a saliva (sombra do beijo), não precisam de palavras que os descrevam. Sexo é “pegada”, mordida, dente, unha, arranhão, marcas, gozo. Ele fala por si só e não precisa de mais nada. As roupas jogadas, os abraços soturnos, os suspiros que precedem o clímax e o deleite, tudo é belo e palpável. Depois do banho, pela manhã em despedida com a camisa amarrotada, onde todos os sonhos foram desnudados, o sexo tem rumos e sentidos quase revelados. No fim desta tese refutável, sublime, absurda e contestável, ficam além das divagações, as sensações que jamais poderão ser apagadas. Este é o ofício lírico que separa e estrutura organismos, sentimentos e pessoas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Você me ama?


Eu faço sexo geralmente nas madrugadas de domingo. É quando tenho tempo, quando tenho disposição para expor inversamente o que durante a semana é só frustração. Minha mulher tem ficado mais bonita a cada final de semana, a cada ano novo que entra. Sempre jovial e disposta a procurar prazer onde em mim as mesmas buscas não passam de um mero despudor. Cada dia um batom novo, um perfume diferente, cremes, xampus, redutores das linhas de expressão. E eu? Troco de perfume ou de marca de sabonete quando acho necessário e essa necessidade vive mesmo, apenas na semântica da palavra, no seu sentido literal. Os universos são distintos, o homem e a mulher são biologicamente diferentes e mesmo assim se amam como se fossem iguais. Cada um se completa ou se suporta? Aprende a conviver com os defeitos e as diferenças ou os sobrepujam? Essas são perguntas que apenas fazem proliferar teorias e mais teorias sexistas e que, na prática, ao invés de suporem soluções para o impasse, dão um nó nas nossas cabeças pensantes.
 

O fato é único, uno e universal. Eu amo uma mulher que dá tudo de si e eu retribuo com tudo de mim. Mantemos o sexo aceso e colocamos combustível para que ele se mantenha fervilhante depois de cada ano. Vocês chegaram ao mesmo consenso que eu? Amor: combustão espontânea. É isto que mantém tudo nos eixos, mesmo que haja pela manhã uma toalha em cima da cama ou uma calcinha pendurada no registro do chuveiro. Quando ela quer saber se eu a amo de verdade, não me faz perguntas, nem retaliações, apenas beija a minha boca. E isto é tudo.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

PENSANDO EM SEXO.

Ontem eu estava no ônibus lendo um livro rotineiro, como costumo fazer agora que ando na vida bandida e nada famigerada de professor, e uma garota que subiu no ônibus me chamou a atenção. Não por ter uma aura imaculada ou ter feito alguma proeza diante de homens suados e mulheres mal-humoradas, todos enlatados no horário de pica, digo, de pico dentro de uma lotação abafada. Assim como todos os outros machos da espécie, eu reparei que ela era muito gostosa. Foi a primeira coisa que pensei, aliás a única. Logo imaginei uma noite selvagem, comi-a com os olhos. Fiquei, depois, com um remorso hediondo. Então pensei: "será que eu sou um compulsivo sexual"? Talvez vivesse ou vive ainda dentro de mim um maníaco farejador de pererecas. Passei na igreja e rezei muito, pedi a Deus que perdoasse esses olhos insanos. Na saída da igreja uma jovenzinha me abordou oferecendo serviços gratuitos de prazer sem fim. Voltei à igreja e rezei mais um pouco, não eram só meus olhos que eram insanos.

Quando cheguei em casa resolvi dar uma espiada na internet e acabei por encontrar alguns artigos sobre sexualidade. Tive de me ater a um estudioso do comportamento sexual chamado Michel Bozon. Ele estruturou a sexualidade do ponto de vista comportamental e social. Não vindo ao caso às peculiaridades do artigo, descobri que 95% da população mundial pensa em sexo todos os dias e o praticam desde sua epigênesis até das formas mais bizarras consideradas modernas. Isso me aliviou e posteriormente me deixou um pouco triste porque no final das contas esse melodrama por causa de um rabo de saia na verdade fez foi me atrasar uma boa foda. O que acalmou meus ânimos e a testosterona concentrada no andar de baixo, ao esperar a próxima oportunidade, foi ouvir Zé Geraldo cantando no meu rádio: "pode ficar feliz porque você não é o único tarado nesse engraçado mundo"...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Mamãe Erótica - Sinopse:


Mamãe erótica. Era sua identidade secreta por trás da imagem de esposa do lar, que vivia frustrada com a educação dos filhos e seu casamento falido. Ela precisava libertar-se daquilo que escolheu ao fazer erros de julgamento em sua juventude. Mas, e como sair, deixando para trás seus sonhos e responsabilidades para viver sob o manto dos prazeres sem fim, destituída das culpas que a sociedade lhe apontaria quando estivesse no implícito banco dos réus? Não existe saída para viver uma devassidão imensamente despudorada sem pagar um preço alto por isso. É um labirinto. Por outro lado, as concepções moralistas de uma educação conservadora estão plenamente corretas? O sexo é apenas um aparato descartável da vida ou a essência dos eternos amores que vivemos? Mamãe erótica se esbarra com pessoas diferentes, com vidas que divergem com seus valores, mas que estão ligadas e entrelaçadas através das mesmas manifestações sexuais, por vezes frustradas, e suas inescapáveis resignações. Você colocaria em xeque tudo aquilo que acredita, sua vida social e suas paixões para experimentar sensações proibidas e irreversíveis?

Pequenos trechos do livro para vocês ficarem com água na boca:

[...] Não busco em vós a perfeição, nem a razão máxima das liras desconcertantes do amor sem fim, este de que tanto salpico em minhas falas, este que busco tão desesperadamente. E em mim não busco a aura do sexo imaturo, da noite perfeita, dos “amantes de Veneza”, da virilidade que te possui com força, com ensejo, espasmos, orgasmos, sussurros, sorrisos, bebidas, cigarros, histórias. Eu quero mais do que símbolos na cama, mais do que oráculos na alcova regados com meu sêmen no teu calor. Ouço a vagina tua rugir para minha espada que te rasga com cada estocada, com cada centímetro dos meus nervos, com cada beijo que na tua boca vai matando minha sede de amor, prazer, horror, dor, descaso. Teu perfume é a ventania que entra pela porta entreaberta, teu calor é o sol que brilha dentro das nossas almas nas noites frias. Olho teu vestido jogado no chão, um champanhe pela metade nas taças, uma rosa em cima do travesseiro, suor no rosto abatido, sorriso nos lábios ansiosos, afeto no olhar incontido. Quais palavras caberiam no silêncio de uma madrugada tão serena?
Quando olho teu rosto adormecido e cheio de sonhos desnudos: lembranças, tesões, excitações. Sinto despedaçar-se o chão dos meus pés toda vez que ouço sua voz pedir mais e mais ecoando em mundos que eu nunca me imaginei. Duas crianças adultas brincando de fazer coisas proibidas. Entre um e outro gemido de deleite eu metia impiedoso, cada vez mais distante da decência e marginal de mim, sufocando e empoeirando meus medos. A incitação da luxúria se resume numa sucessão de carícias amedrontadas, onde dois anjos caídos perderam seus escrúpulos por baixo do edredom do motel em uma dessas noites de carnaval. As camisinhas no lixo nos delataram. Entretanto, fizeram nossos olhos cúmplices receberem absolvição dos crimes sentimentais. Quantas vezes fui à tua busca no serviço, com flores nos braços, quantas vezes pegamos chuva voltando do cinema à noitinha de domingo, tomamos sol na praia deserta e fora de temporada, comemos cachorro quente na rua, tomamos café à tardinha numa quarta-feira ou visitamos algum doente no hospital? Inúmeras. Você adormeceu muitas vezes no meu colo enquanto assistíamos à televisão deitados no sofá. Pediu café na cama nos dias que a enfermidade lhe atacou as vísceras ou a indisposição tomou conta de ti nos domingos friorentos do outono. E qual a fórmula desta volúpia altiva, os descrentes me perguntam. Não tem. Simplesmente acontece, com a mágica da convivência, sem receitas e nem prescrições. Se fosse premeditado, seria conveniente demais e perderia a gracilidade. Poderia até dizer que grande parte desta prosopopéia sem sexismos pertence a ti, o meu orgulho declarado.
Contudo, não vim para falar de homens ponderados, nem de mulheres reservadas, tampouco vim até aqui discursar sobre a devassidão e a libertinagem. O mundo vadio não cabe no que meus olhos foram capazes de narrar. Hoje eu resolvi falar para os amores, esses loucos e bonitos, varridos, intransigentes, inconseqüentes. É hora de bailar na calçada, subir nos muros, olhar a lua e dizer para as vozes incrédulas dentro de nós: “qual é o sentido de não querer ir tão longe”? Quantas vezes na fútil realidade dos fatos fomos capazes de dar tanto valor a conjecturas tão corriqueiras, quantas vezes o coração se abateu nas injúrias e permanecemos fortes para não sucumbir por completo? Quantas facas fomos capazes de enfiar na gentil gentileza? Eu brinco com as palavras, como o amor brinca comigo e as imoralidades brincam com corações antes tão racionais. Mas esta afeição enlouquece a sana vontade que rege a compreensão humana e esses amantes são cúmplices dos desejos mais viris. Por mais que nos firamos nos percalços, nunca essas agulhadas da vida foram capazes de romper o desvelo. Vejo então as sombras caminhando no horizonte das nuvens, de mãos dadas, entregues ao sentimento singelo que definha o perverso. A silhueta na escuridão da praia, que seduz meus passos até encontrar pelas memórias a água do mar, é minha carta de alforria; eu, escravo dos versos tristes e dos sexos irremediavelmente estranhos ao que eu primeiramente busquei. Mas todo esforço desmedido teve uma rota e antes que eu me cansasse resolvi dizer meus dizeres, antes que minhas palavras também acabassem.
Peguei meu violão e enquanto dedilhava a canção “Lady” de Kenny Rogers, cantava a vida e os incomensuráveis tons coloridos dos sonhos imortais. Minha alma via todos os casais do mundo ao redor de uma imensa fogueira, abraçados, de olhos fechados, acompanhando baixinho, ouvindo a melodia que da minha boca soava. Mas fui além, minha visão atravessava paredes, vendo brigas, afagos, sexo, traições, estocadas, suores, sonos, solidões. Pude notar o quanto nós humanos somos tristes, frágeis e estúpidos, quantas coisas podemos galgar e destruir, compreender e ignorar, fazer crescer ou deixar ruir. Somos deuses capazes de proezas sobre outros animais, embora, por outro lado somos vermes por achar que algo nos fez superiores para reinar sobre qualquer outra espécie e tragicamente mal conseguimos evitar a nossa própria extinção. É a maldição da tolice para os que se acham mais sábios. Continuei frenético nos acordes, na finura do meu canto, velejando acordado aos devaneios meus. Expropriei-me de certas coisas que nem mesmo as lágrimas tenras produzidas por elas trouxeram a calma ao meu ego melancólico. Mas o vento soprou implacável naquela noite.
-- Oi amor! – uma suave voz sussurrou.
-- Não faça isso... Por favor, eu não... – eu tentei esquivar-me. Mas já era tarde. Um beijo tinha unido nossas bocas secas e sedentas (...).


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[...] Amanda sentiu seu primeiro orgasmo aos doze anos quando se masturbava com seus dedinhos de criança. Aos treze perdeu a virgindade com um cara que lhe chupou todos os buracos do corpo. Ela aprendeu errado. Liberdade, libertinagem e devassidão eram palavras que confundiam suas percepções. Aos quatorze já tinha ido pra cama com grande parte dos garotos da cidade. Ela via sua vagina, outrora respeitada, se tornar palco das mais puras perversões. Aos dezoito anos Amanda fez um filmezinho pornô e foi expulsa de casa. Sua vida começou ali. Antes, tudo era divertimento. Agora seu arrependimento e saudade de ninfeta eram apenas lembranças que teimavam em permanecer. Precisava manter-se viva pelo menos. Morrer era fácil longe da ambição e proteção dos pais, bastava virar a esquina em uma madrugada proibida para mulheres.
E sobreviver num mundo que é um câncer carnívoro para quem, ora sabia lutar, ora se escondia nas trevas do passado, era uma tarefa um tanto dolorosa até para os heróis. Principalmente quando as pessoas sabem demais sobre sua vida, ou acham que sabem. Amanda morava num cortiço imundo, podridão certa, reduto de detritos sociais, seu quartinho era bem em frente a uma boca-de-lobo. Em dias de chuva, cheirava esgoto. Em dias de sol cheirava a mijo. “Uma merda” ela pensava toda vez que olhava pela janela. Mas viveu ali muito tempo convivendo com viciados, cachaceiros, prostitutas, mendigos, trombadinhas, cafetões, traficantes, bandidos. Todos eram da mesma laia (...).


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[...] Ela estava lá estática com seus sonhos à deriva. Não sabia se era menina ou se, pelo desejo carnal, da sociedade e não pelo seu próprio, se tornaria mais, apenas mais uma puta qualquer. Aquela putinha que os meninos olham atravessar a rua correndo, mergulhada em batons e maquiagens para disfarçar o nu do ego, e que entre eles surgia o sussurro sem-vergonha “eu já comi essa”. Como se ela fosse apenas mais um prato do menu sexual dos restaurantes masculinos. Ele era o homem dos sonhos perfeitos de todas as meninas veneno, que se misturavam ao mundo másculo, apaixonadas pelos mauricinhos dos anos 90 com suas roupas de grife e carros turbinados. Mas e quem era ela? “Apenas mais uma puta se mostrando pras amigas” era o que a maioria deles pensava. Não o era, pois por trás de sua cara borrada e mal pintada havia um coração confuso, uma gata borralheira perdida, que de cima do muro não sabia para que lado pular: o das moralidades que os pais tentavam (em vão) enfiar na sua cabecinha de menina oca e o das liberdades que suas amigas tanto pregavam. A escolha parecendo simples era na verdade uma equação dificílima para encontrar a reposta certa, a saída perfeita. Já ele não era muito esperto e se mostrava bastante imaturo diante dos mais velhos. Nem se incomodava com isso, pois este novo ser conhecia a moda e a metrossexualidade, fazia tipinho para galantear as tietes de plantão que brotavam de uma árvore de bobagens. E fazia muito sucesso.
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Ela se arrumara toda. Não demonstraria ser virgem. Queria passar despercebida, não ia sentir dor, nem queria, tentaria não sangrar muito. Levou absorvente na bolsa pra poder fazer teatrinho e enganar ele como enganara seus pais ao sair porta afora. Estava no banheiro do shopping retocando a cor em volta dos seus cílios. Seu rosto era um deserto árido, cheio de perigos e temores. Mas estava decidida, ia “dar” para ele naquele mesmo dia, o homem que “todas” as suas amigas desejavam. Ou que já tinham possuído, mas agora ele era a aposta... E tristemente o troféu a ser levado... Ninguém sabia qual seria o prêmio pela promiscuidade, ou talvez nem existisse mesmo tal medalha humana. Aquela futilidade não passava apenas de um simbolismo improcedente. Era simples assim. Sexo e desapego para uma menina que mal saíra das bonecas e já se achava a mulher perfeita, com suas curvas e suas opiniões desastrosamente formadas. Não teria filhos, não se casaria, moraria com as amigas após os dezoito anos, estudaria numa faculdade e se graduaria em direito, se tornaria a “toda-poderosa” que desde pequena quisera ser algum dia.

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Ele estava pronto pra mais uma trepada. Um motelzinho de um amigo esconderia que mais uma menor de idade, não de desejos medrosos, seria corrompida. Um sexozinho sem compromisso para degustar uma carninha nova que rondava o pedaço como se fosse a dona do território. Adolescência febril onde se perderam todos os respeitos e o amor, assim como a compaixão e ao cuidado, o que concerne ao semelhante estava tudo escasso e quase no fim. Os dissabores. Esses estavam em demasia. A bola da vez eram os jovens alienados, levantando seus cartazes em silenciosas multidões dentro de si, enaltecendo: “abaixo os sentimentos”, “não ao amor”. Ele guardara no bolso uma cartela de camisinha, sabia que não usariam todas elas. Era apenas para inflar ainda mais a sua auto-estima exagerada. “Hoje eu vou foder deliciosamente aquela cadelinha”. Metrossexualidade e submissão. Juventude sem limite e violação de conduta. Fetiches então mais decepcionantes que suas realizações. Estava, no meio da selva de pedra, armada a arapuca (...).

Capa do livro "Mamãe Erótica"...

Saudações poéticas e literárias a todos.

Hoje eu estou aqui para lhes trazer novidades sobre o meu livro Mamãe Erótica. Para quem ainda não sabe, em breve, muito breve, estarei publicando o referente supracitado. E pensando nisso eu tentei bolar mais ou menos algumas capas para o meu livro, retirando imagens da internet. É claro que não são as imagens oficiais diga-se de passagem, mas é o início (que coincidência!) de alguma boa idéia. Abaixo vocês podem vislumbrar as imagens pitorescas que eu criei embasado na sinopse da minha humilde obra.

PS: Quem for bom desenhista ou tiver alguma idéia melhor que a minha, por favor entre em contato comigo por e-mail. Toda criatividade será bem vinda. Mas não se esqueça de mandar sua idéia ou criação devidamente identificada e/ou com autorização por escrito. Do contrário, infelizmente, terei que descartar. Aquelas que forem do meu interesse poderão até ser usadas na primeira edição do livro. Obrigado.








Referências Pictórias:

http://pic40.picturetrail.com/VOL287/8715294/16557902/254942344.jpg

http://www.brycelankard.com/IMAGES/illumshad/zoe.fuzzychair.4.4.03.#1.jpg

http://weblogs.clarin.com/itinerarte/archives/esterne041623190510101346_big.jpg

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw6I_StXB8-yMyNaX92D1BdGDpkeS_tEGh7vO65u5tyPIixVPRl9zIteGce8gHJrgdvqmuGUtUocEGq2Z-m_N8qKUxBho3Iy6q9Zuhj3CpEQPRQCMa5V9vtJ5Dw-JgMhO63B54cJsnSeDq/s400/eroticos2a.jpg&imgrefurl=http://fernandodealmeida.blogspot.com/&h=400&w=397&sz=56&hl=pt-BR&start=19&um=1&tbnid=XCgkvPXekPwctM:&tbnh=124&tbnw=123&prev=/images%3Fq%3Derotico%2Bdesenho%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26lr%3Dlang_pt

http://memoria-inventada.weblog.com.pt/arquivo/desenho%20almada%20negreiros.jpg

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Início.

De repente me bateu a idéia de ter um blog, depois de muito tempo. Por que? Não sei. Apenas senti que estava preparado para começar tudo de novo, com a maturidade que eu talvez não tivesse a cinco anos atrás. Hoje eu sei escrever, falar sobre assuntos diversos e até fúteis, com a mesma gracilidade de discorrer sobre um tratado filosófico. Mas essa não é minha intenção hoje. Neste momento eu pretendo falar sobre o início de tudo. Principalmente da parte onde reinventar minha vida, através de rabiscos que tracei no meu caminho enquanto caminhava (é claro), parecia impossível. Mas não o era. Compreendi que todos os nossos começos têm sua importância, uns mais do que outros e por isso a difícil decisão de escolher sobre qual deles trazer à luz quase investigativa. E de quais inicios eu deveria falar então?

Bem, inicialmente (óbvio) eu tentei não usar jargões e nem clichês durante minha vida. Sempre pretendi ser um homem incomum, cheio de novidades interessantes e conteúdos saborosos. O problema é que quando me olhei no espelho, depois de tais veemente desígnios, descobri que "ser humano" não é transformar seu caráter num produto enlatado e rotulado que encontramos facilmente nas prateleiras de supermercado, ou como inédito ou como indissolúvel necessidade. O que me faltava era ser desmistificado e escapar do idiotismo mundano que muitas vezes nos acometemos sem perceber. Depois de 1/4 do século (ok, digamos, exagerados vinte e cinco anos) da minha vida foi inacreditável perceber que andei vinte e cinco mil quilômetros em horas intermináveis e parei no início de tudo, de onde havia começado a viver quando as concepções passaram a se tornar permanentes. Caiu a ficha. Fiz uma repescagem e recauchutei os pneus da existência que corriam no solo do destino como carros envenados e sem freio. O médico foi incisivo: "você precisa mudar seus hábitos". Que hábitos? Era inaceitável que depois de tantos anos dedicados à estudos minuciosos sobre a liberdade e devassidão aos olhos de um jovem poeta, tinha que realmente mudar meus hábitos. Ou seja, livrar-me do cotidiano vil e cheio de vícios e malefícios. A primeira coisa que fiz foi pegar todos os cigarros que tinha na gaveta do armário e lançá-los fora. Quase apanhei porque não fumo e o cigarro não era meu. Tudo vale para nos sentirmos melhor. Inclusive fazer dos dias uma piada de onde poderemos sempre arrancar sorrisos onde só a tristeza impera. Mesmo assim eu tinha que voltar ao marco zero de tudo que havia vivido até ali? Tinha. Era inescapável.

Na manhã seguinte ao meu aniversário de vinte e cinco anos descobri que cada dia é um novo recomeço e cada conquista (ou derrota não nos esqueçamos) levará nossas almas e corpos para um ponto de partida em dias inadiáveis, cheios de amanhãs e ontens, onde o presente é a estréia do enredo continuado da nossa vida. Concluí que este é realmente o meu verdadeiro início. Na verdade, agora é o fim (desculpem).